quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

"Crise faz Rio montar desfile mais alternativo. Tradicionais anunciantes, como Petrobras, Caixa, Coca-Cola e Brasil Kirin, reduziram ou até cortaram ações de marketing no sambódromo e patrocínios às escolas!"



                       Os desfiles das 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio começaram neste domingo (07/02/2016) sob os efeitos da crise econômica. Sem patrocínio de empresas particulares nem de governos de estados e municípios, as agremiações se valeram dos R$ 6 milhões que arrecadam, cada uma, de fontes oficiais e privadas. São R$ 2 milhões da prefeitura (era o dobro do valor até o ano passado) e R$ 4 milhões da renda advinda da venda de ingressos e de CDs, direitos de imagem e festas nas quadras, entre outras origens. Em anos anteriores, as escolas mais “ricas” chegaram a anunciar gastos de R$ 15 milhões.
                        Como mais da metade dos materiais de ornamentação de carros alegóricos e fantasias, como tecidos, plumas, penas e pedrarias, é importada, o dólar alto fez seu custo final subir muito. Isso levou fornecedores a cancelar encomendas, que vêm de países como a China, ou reposições de estoque. Os carnavalescos precisaram reciclar elementos cênicos usados anteriormente e lançaram mão de insumos alternativos.
                         Destaque da noite de domingo, a Beija-Flor, que ganhou o campeonato passado com a injeção de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões do governo ditatorial da Guiné Equatorial, deverá apresentar-se menos luxuosa do que de costume. A escola vai homenagear o Marquês de Sapucaí (1793-1875), senador, conselheiro do Império e preceptor de d. Pedro II.
                        A Grande Rio, outra potência do domingo, falou da cidade de Santos. Mas afirmou não ter recebido patrocínio direto da prefeitura local. Entre os destaques, Neymar não poderia ir, pois teria jogo do Barcelona. Pelé é aguardado – o carnavalesco Fábio Ricardo preparou até um trono para ele.
                          A noite começou com a Estácio de Sá, que subiu do Grupo de Acesso em 2015 e louva São Jorge. Os Jogos Olímpicos do Rio, em agosto, são o enredo na sequência da União da Ilha. A escola afirmou que também não recebeu patrocínio. O mesmo vale para a Unidos da Tijuca, que surgiria falando de Sorriso (MT), cidade considerada a maior produtora individual de soja do mundo.Já a Mocidade escolheu ir “contra o vento” no enredo sobre Dom Quixote de La Mancha. O personagem desafiaria “moinhos” brasileiros, como a corrupção e as dificuldades nas áreas de saúde e educação.
                           As escolas de samba do Rio e de São Paulo tiveram desafios adicionais este ano para desfilar com glamour na avenida. Além de acertar os passos e entrosar a bateria, os carnavalescos tiveram de organizar o desfile com orçamentos reduzidos. Tradicionais anunciantes, como Petrobras, Caixa, Coca-Cola e Brasil Kirin, reduziram ou até cortaram ações de marketing no sambódromo e patrocínios às escolas. Em alguns casos, a culpa é da crise. Em outros, as escolas perderam recursos para o ascendente carnaval de rua brasileiro.
                            Só a Petrobras, que nos últimos cinco anos destinou cerca de R$ 12 milhões às escolas do Rio, cortou a verba em 80% este ano. E os R$ 2,4 milhões que a estatal concedeu às escolas saiu às vésperas do carnaval. No caso da Petrobras, a culpa é da crise. “Essa decisão faz parte de um esforço de redução dos valores dedicados à atividade de patrocínio, em função da atual situação da companhia”, diz a Petrobras, em comunicado.
                           A Coca-Cola, que anunciou no sambódromo nos últimos 20 anos, deixou de ter um camarote na Sapucaí em 2015 e cortou também os anúncios no sambódromo neste ano. 

                           “Não há corte na verba de marketing da companhia (em 2016). Trata-se de uma decisão estratégica de direcionar investimentos para os Jogos Olímpicos do Rio”, afirma a empresa.
                              É normal na área de marketing patrocinadores irem e virem. Mas o fato é que este ano esse movimento trouxe um orçamento menor. “Perdemos uns 30% dos patrocinadores do ano passado e conseguimos uns 20% novos”, diz o presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Paulo Sérgio Ferreira.
                             Ele afirma que o espetáculo não está comprometido e que as escolas conseguiram fazer belas alegorias com ajustes de custo trocando, por exemplo, materiais importados por nacionais. A Liesa, do Rio, também sentiu dificuldade nos patrocínios deste ano. “Além da crise, o carnaval foi mais cedo. Atropelou tudo”, diz o diretor comercial da Liesa, Hélio Motta. As ligas das escolas negociam com as marcas espaços para anúncios na avenida e a venda de camarotes corporativos.
                             Pela primeira vez em seis anos, a Liesa não conseguiu vender todos os seus 410 camarotes e distribuiu 36 deles entre as escolas. “O problema foi os espaços pequenos, de 18 lugares, afetados pela crise”, afirma o coordenador geral de vendas da Liesa, Heron Schneider. Segundo ele, as vendas já estavam fracas em 2015, tanto que a Liesa desistiu de reajustar preços dos espaços – que vão de R$ 50 mil a R$ 800 mil. “Antes tinha fila para comprar. Ano passado vendemos tudo nos 45 do segundo tempo. E este ano sobrou camarote”, conclui.
                             As ligas de São Paulo e Rio ignoraram a inflação e seguraram os preços dos ingressos para tentar lotações maiores e compensar a perda de patrocínio. “Fizemos ajustes no calendário, para colocar desfiles de escolas com grande torcida nos dois dias. E seguramos o preço do ingresso. Esperamos um público maior”, explica Ferreira.
                             Algumas escolas vão desfilar sem patrocinadores. É a primeira vez desde 2000 que isso ocorre com a Unidos da Tijuca. Ano passado, seu samba enredo homenageou a Suíça e ganhou patrocínio da Nestlé.”Vamos falar de agronegócios este ano e esperávamos o patrocínio do município de Sorriso (MT), que não ocorreu”, diz o presidente da escola, Fernando Horta.
                              Além dos patrocínios, as escolas recebem repasse de direito de imagem da Rede Globo e uma participação na venda de ingressos. O desfile da Unidos da Tijuca custa cerca de R$ 13 milhões, mas faltarão R$ 2,5 milhões para a escola fechar a conta.
                              Enquanto marcas saem do carnaval, outras conseguem seu espaço. Um dos sócios da Frooty Açaí, Rogério Oliveira, sugeriu em 2011 à escola paulista Pérola Negra um enredo sobre açaí. Neste ano, o tema emplacou na X9 Paulistana. “Somos líderes de mercado, quanto mais pudermos fomentar a cultura do açaí, melhor para nosso negócio”, explica. A Frooty Açaí, que produz 70 toneladas por dia do produto, é exportadora, ganha com a alta do dólar e cresceu 30% em 2015.

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